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Sobre bons livros e a oportunidade de sua leitura

  • Foto do escritor: Raigil Rosas
    Raigil Rosas
  • 9 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de jan.

O diário de uma professora e artesã que ainda sonha mudar o mundo.

Minha estante - Arquivo Pessoal
Minha estante - Arquivo Pessoal
A: “Mas os estudantes não leem.”
B: “Eles não leem o que você determina, mas leem de tudo um pouco.”

Sou apaixonada por livros, aqueles impressos e com identidade própria, não fotocopiada. Amo os livros que posso tocar, abrir, cheirar, sentir a textura, vibrar com seu design. Tenho livros comprados em livrarias, sebos e feiras. Ganho livros, e adoro a sensação da surpresa do título que foi escolhido para mim. Poucas vezes fiquei decepcionada com o livro que adquiri. É que não sou fã de autoajuda e boa parte das fanfics (abreviação da expressão inglesa ‘fanfiction’, que significa ‘ficção de fã’, e trata da apropriação de história ou de seus personagens para a geração de narrativas paralelas ao original), já que algumas delas são mal elaboradas, possuem inúmeros furos narrativos e equívocos gramaticais. Minhas alunas e meus alunos sabem de tudo isso, pois sou o tipo de professora que compartilha das leituras da moda.


Minha mãe sempre foi uma leitora de ‘literatura mamão com açúcar’, conhecem? Pertencem à coleção que tem nomes de mulheres - Bianca, Júlia, Sabrina etc, li uns três/quatro títulos, não fui seduzida. Achei deveras açucarado. As histórias se repetem e tem sempre uma mocinha que precisa de um herói másculo, cuja beleza e personalidade padronizavam o tipo de homem com quem deveríamos nos relacionar, fiquei cheia disso muito rápido (risos). Mesmo assim, foi um incentivo ao mundo das letras. Ela tinha em nossa estante alguns livros que foram lidos no seu Colegial e outros títulos como ‘... e o vento levou’, de Margaret Mitchell, um clássico! Reza a lenda que foi lido durante a minha gestação, tenho um enorme carinho por ele. Mainha incentivou mesmo a nossa leitura, até porque pertence a uma geração que repetia o mantra “Você não nasceu rica, então estude!”. Ganhamos coleções de contos clássicos, gibis, a coleção ‘Para gostar de ler’ na adolescência, seguida da Série Vagalume (Que me inspirava bastante.) e dos livros que a escola solicitava, até começar a trabalhar e descobrir a mina de ouro: a livraria.


Foi depois desta descoberta que meu quarto, dividido com mais três irmãs, também se tornou uma biblioteca. Comecei um relacionamento, e que perdura até o momento, com as personagens que povoam os livros acumulados na minha estante (Já disse e repito, esses são meus e não os empresto ´\0/`). Lia o que o mercado editorial ditava, aventurava-me nas páginas de tantos lançamentos que hoje tenho mais títulos do que sou capaz de ler, ainda assim leio. Ao trabalhar com adolescentes descobri ‘O Hobbit’, livro difícil pra mim, e uma delícia para a turminha – J. R. R. Tolkien você me paga. Esse é um desafio, nunca consegui terminar de ler (Um dia desses, quem sabe?!). Gentê, o livro é de 1937! Já ‘O Senhor dos Anéis’, de 1954. E os estudantes liam avidamente. Garanto que nem você, fã da Sociedade do Anel, sabia que Tolkien é falecido e de que os livros foram escritos no início do século passado. Olha, só para você ter uma ideia, ele faleceu em 1973 e eu nasci quatro anos depois. Mas voltando ao debate, meus colegas de profissão reclamavam que não tinham a atenção para a literatura indicada no currículo escolar e perguntavam como conseguia fazê-los ler. Simples, lia com eles. Traçava paralelos.


Mais recente, a febre ‘Harry Porter’ e ‘Animais fantásticos e onde habitam’ da escritora J. K. Rowling encantaram a moçada, porém, meu primeiro título dela foi ‘Morte Súbita’. Outra vez os professores brigavam com suas turmas sobre a indecência da leitura norte-americana (São adjetivos pátrios, por isso a permanência do hífen.), sem nunca ter se dado ao prazer de passear por suas páginas. No entanto, coloco-me no lugar de meus colegas. A grande maioria cresceu sem uma mãe leitora, seus professores impunham literaturas brasileiras canônicas no Ensino Médio para atender a demanda dos exames vestibulares (com resumos copiados dos colegas) e na faculdade perpetuou a ausência de atualidades, de literaturas contemporâneas. Tudo termina na literatura moderna de 1945 (João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Lygia Fagundes Telles, Mário Quintana), da qual nossos professores, Mestres e Doutores, exploravam com pouca ou nenhuma criatividade. Eu tive sorte, meus mestres orientaram leituras paralelas aos cânones, e descobri Milton Hatoum, Mia Couto entre outros.


Verdade seja dita: a educação ainda não gera cidadãos críticos. Nossos professores necessitam de mais dedicação ao ato político que é ensinar. Perceber que a escola é um ambiente de compartilhamento social, logo, um lugar propício para conhecer novas literaturas. Sair da tal ‘zona de conforto’ transforma o leitor de narrativas em críticos bem sucedidos, porque percebem o que há por trás de cada história. As constantes batalhas entre as casas da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts são bem capazes de ilustrar algum espaço-tempo de nosso cotidiano. Já pensou nisso? Taí uma sugestão, e de graça.


Palavras-chaves: Educação. Internet. Leitura. Literatura. Professora. Redes Sociais.

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