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Nossas paixões, por vezes, são ordinárias.

  • Foto do escritor: Raigil Rosas
    Raigil Rosas
  • 17 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 13 de jan.

O diário de uma professora e artesã que ainda sonha mudar o mundo.


O tempo passa - Arquivo Pessoal
O tempo passa - Arquivo Pessoal
“When you get older, plainer, saner / Will you remember all the danger we came from?” Laura Pergolizzi, Mike Del Rio, Nate Campany

Costumo navegar sem rumo pela internet para desanuviar, e descubro macetes para a vida (Como passar sabonete no espelho do banheiro e depois encerar com um pano seco para não embaçar durante o banho quente \0/). Também encontro dicas de bordado, organização de ambiente, lugares e pessoas curiosas pelo mundo (Foi desse jeito que resolvi passear de balão na Capadócia um dia desses. Quem sabe quando isso vai acontecer?), além de intérpretes sensacionais e Ana Vidovic tocando Asturias (Encanta-me demais!). Pois é, quando envelhecemos, acredito, tiramos a sorte grande, ficamos um tantinho mais sábio que ontem e um pouco mais ordinário... Por que não aprendemos com as experiências já vividas?


Hoje, especialmente, estava me sentindo apaixonada e correspondida. Escutei LP, Tonina Saputo e Zélia Duncan o dia todo. A voz dessas figuras pareciam me hipnotizar, porque repeti a mesma sequência de canções inúmeras vezes. Estava afagada, acarinhada, acolhida por cada voz que escutava. Preparei o melhor almoço que poderia cozer para compartilhar com elas, na presença delas. A sensação de estar enamorada é singular. E mais incrível quando percebemos que esse fogo desperta quando menos esperamos e consome até a alma. Confesso, por mais que passem os anos, ainda me apaixono pela minha profissão. Amo ser Professora! Comecei em 1993 como Auxiliar de Classe na Educação Infantil e logo assumi a regência, faltava um ano para concluir o curso de Magistério e essa escola me contratou (Sem assinar CTPS, claro.). Era difícil, não entendia como as crianças aprendiam. Experimentei um pouquinho de quase tudo que estudava para fazer a aula ser um sucesso, nem sempre dava certo. A oportunidade de participar de um curso sobre a Epistemologia Genética de Piaget ajudou a entender quando e como se aprende a escrita de uma língua e, depois, as oficinas da Pedagogia de Projetos do Paulo Freire contribuíram para dinamizar as aulas, foi quando começaram os presentinhos de agradecimento e a descoberta de que a professora tem a última palavra para uma criança – risos. Infelizmente isso muda quando chegamos ao Ensino Médio, uma vez que os estudantes sabem sobre o tal ‘modelo de redação nota mil’ – particularmente, odeio isso.


Com esse novo negócio de “ensino remoto” (ou educação mediada pela tecnologia através de um ambiente virtual), minhas aulas foram transferidas para a sala de vídeo conferência. Atendi, nessa brincadeirinha, uma porção de estudantes perdidos em seus horários de estudos, com sono e sem motivação. Mesmo assim, conseguimos descobrir que uma citação na redação de nada adianta se estiver “encaixada” porque tem uma das palavras-chaves na sua constituição. Também deu tempo de perceber que em um texto dissertativo-argumentativo o que vale é uma ideia bem defendida, diferente do exagero de fatos para ilustrar o problema. Uma vez exposto, a preocupação deve ser em defender sua ideia sobre o assunto, discutindo com o leitor e sem deixar brechas para possíveis inferências. Ah! Lembrei de uma situação na qual a redação ilustrava o recorte temático comparando-o ao livro Utopia, de Thomas More (Você conhece?); o problema foi que reduziu uma obra de estilo irônico e tão bem escrito a um texto enfadonho. Descobri que o autor da redação nunca havia lido o livro e de que essa citação está em um aplicativo de ‘citações para redação Enem’. Pior é que, como ele, outros estudantes não leem os livros ou assistem aos filmes e séries que citam nas produções textuais, e se o fazem nem consideram tentar usar as próprias considerações para criar um texto autoral. Que fizeram com esses estudantes? Taí a educação com base em conteúdos e sem relação com o mundo que os cerca.


Queria voltar para a escola e brigar outra vez por qualidade na educação. Queria gritar para meus professores que não sou um computador, nem gravador, sequer pendrive... Queria lidar com os problemas da minha escola nas reuniões do colegiado... Queria organizar debates para analisar a conjuntura nacional... Queria fazer tudo que fiz - outra vez - para tentar mudar a educação que recebia... Queria que meus colegas se inspirassem, como eu, na magia da testa desfranzindo por ter, finalmente, compreendido a situação... Queria temer o que me aguardava após cada protesto... Queria amar de novo... Quero que meus pimpolhos descubram que na educação é possível mudar o mundo, quem sabe seu próprio mundo, quem sabe (re)descobrir sua própria identidade porque aprendeu na escola que é importante sonhar e lutar pelo que deseja.


Palavras-chaves: Autocuidado. Distanciamento Social. Educação. Professora. Redação.

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