Educação remota versus aprendizado
- Raigil Rosas
- 19 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de jan.
O diário de uma professora e artesã que ainda sonha mudar o mundo.

“Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.” Esopo
Uma das metas do atual governo brasileiro é a legalização da Educação Domiciliar. O projeto de lei foi assinado no início de abril e aguarda a tramitação no Congresso Nacional para, então, vigorar. Esta nova lei deve alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que estabelecem a obrigatoriedade dos pais ou responsáveis matricularem crianças e adolescentes em sua guarda nas escolas, além de garantir a sua frequência. No entanto, questiono a validade deste processo, uma vez que os pais ou responsáveis não conseguem ‘suportar’ a presença de seus filhos durante a pandemia do COVID-19. Como será isso?
Longe de mim afirmar que a educação domiciliar não daria certo no Brasil, até porque antes da implantação da Educação Infantil por aqui eram as famílias que alfabetizavam seus filhos na mesa das cozinhas de suas casas. Somente que estamos falando de outro contexto histórico e inúmeras famílias não terão a oportunidade de contratar um tutor (Pensou que os pais ou responsáveis seriam os professores destas crianças? Deixe de bobagem, né?!). Então, voltando às minhas indagações, pensa comigo: um dos princípios da educação domiciliar é a supervisão dos pais, mas eles (a grande maioria) nem ficam em casa, ou visitam as escolas de seus filhos, não escutam as recomendações de seus professores, nem mesmo sabem as reais necessidades da criança, e são tantas as tecnologias que cercam esta geração de filhos que até os deixaram adoecidos. As novas síndromes, inclusive, restringem a atuação da equipe pedagógica, pois não aprenderam sobre isso na faculdade. Aliás, não aprendemos muitas coisas na faculdade. Entre as coisas que não aprendi foi a utilizar essas novas tecnologias a serviço da educação. Convenhamos, ainda estou aprendendo a realiza-la remotamente.
Cara, são quase 30 anos de sala de aula e ainda tenho muito para aprender. Sinceramente, tem novidades que deixaria passar. Mesmo assim, sigo testando a melhor ferramenta para ter um tête-à-tête com os estudantes e tentar sanar as suas dificuldades para aquela tarefa, ainda que reconheça a falta de hábito em estudar como o maior dos problemas. No intervalo dos atendimentos recebi um meme que listava as atividades de casa antes do distanciamento social (duas páginas) e durante esse evento (trocentas páginas e alguns desafios); outra mensagem trazia uma sequência de áudios de pais espantados por não conseguirem dar conta de seus próprios filhos enquanto as professores mantém 30/40 crianças ou adolescentes nas salas de aula. Nesse ínterim, acredito que nos faltam convivência, afinal, a manutenção da educação é responsabilidade da comunidade, seja ela formal ou cultural. O que isso significa? Bem, um resumão seria o fato de considerarmos a educação regular, aquela que se aprende na escola, conteudista, e que, por esse motivo, as dificuldades em manter uma rotina de estudos e gerar conhecimento tornou-se um desafio.
Acredito que hoje minha declaração esteja confusa, fazendo pouco sentido. Estou cansada mesmo. Esse negócio de telinha dá muito trabalho, ainda mais com a internet maravilhosa que possuo. Mesmo assim, deixo aqui a opinião de que o aprendizado se dá pela cooperação, e de que a educação domiciliar deveria ser um último recurso para substituir a educação formal e regular. E, finalmente, que o conteúdo explorado pela educação remota desses dias precisam ser revisitados quando tudo voltar à normalidade, mas de uma maneira criativa e coletiva. Digo, com a participação efetiva dos pais ou responsáveis e da equipe pedagógica. Ah! Por favor, meus queridos, sejam gentis uns com os outros. Combinado?
Palavras-chaves: Distanciamento Social. Educação Domiciliar. Educação Remota. Professora.
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