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Quem disse que as rosas não falam?

  • Foto do escritor: Raigil Rosas
    Raigil Rosas
  • 13 de jan.
  • 3 min de leitura

Sabe aquele momento no qual você se depara com algo extraordinário? Não era só o roteiro, mas a narrativa que parecia ter saído de um livro... Ops! E não é que ele foi baseado no romance de Holly Ringland. Não sabe quem é? Eu, também não sabia! No terceiro episódio da série As flores perdidas de Alice Hart (The Lost Flowers of Alice Hart) fiquei curiosa e fui googlear. Confirmei o que desconfiava, era um livro. Como fã de histórias bem contadas, fui buscar para comprar. Shiiii... Silêncio para chorar, pois o livro custa pouco mais de um terço do salário mínimo. Que coisa absurda! Vou aguardar mais um tempinho. Quem sabe, né!? O fato é que a série vale muito o seu tempo. Maratonei em menos de 24 horas.


A série australiana, que faz parte do catálogo da Amazon Prime Vídeo, estreou em grande estilo no dia 04 de agosto de 2023 no Brasil (e somente agora consegui ter um tempinho para assistir). A direção é de Glendyn Ivin, seu roteiro foi criado por Sarah Lambert, tem 7 episódios na primeira temporada e possui em seu elenco uma atriz da qual sou muito fã, Sigourney Weaver - isso mesmo, aquela doutora de Avatar (2009), a tripulante em Alien (1979/1986/1992/1997), a ativista de A montanha dos gorilas (1988) entre outros filmes, séries e programas. O que também me encantou foi o cenário e o ambiente que se encaixam devidamente em cada fato que ali é narrado, figurinos adequados ao tempo e espaço, além de uma trilha sonora impecável. Por fim, cada episódio constrói a narrativa necessária para compor toda a temporada, nada fica sem resposta. Tudo em seu tempo.


Bem, a narrativa conta a história de Alice Hart (Alyla Browne), menina de 9 anos que vive com a mãe Agnes (Tilda Cobham-Hervey) e o pai Clem (Charlie Vickers) em uma fazenda afastada da cidade. Elas são vítimas de violência doméstica e esse medo desperta o desejo de fugir daquela realidade. Um acidente provoca a ira do pai, que ao retornar de um exame pré-natal – pois Agnes estava aguardando seu segundo filho, tenta matar a própria filha. A história avança e a menina parece ser a única sobrevivente. Após recuperar-se, mas sem conseguir pronunciar um ruído devido aos vários traumas físicos e psicológicos, Alice vai viver com a avó paterna Junia Hart (Sigourney Weaver) na fazenda Campo de Espinhos. No decorrer da narrativa, quem assiste vai acompanhar a histórias das “flores”, que também viviam por ali, e a trajetória da própria Junia, que tenta acolher a neta e incorpora-la naquela realidade de cuidados.


Passa o tempo e Alice Hart descobre que seu amigo de infância foi deportado devido à denúncia de sua avó, então ela parte da fazenda e se instala em uma reserva florestal da cidade de Agnes Bluff. Enquanto a avó sofre com o câncer e todos os segredos que a companheira Twig (Leah Purcel) e a filha adotiva Dulce Azul (Frankie Adams) descobrem, a garota se apaixona e não percebe o quão abusivo é o namorado. Elas se reencontram, porém, a mágoa atrapalha o perdão. O fato é que tratar das nuances da violência doméstica e imprimir suas características para quem assiste a trama é “a cereja do bolo”.  Não se trata da raiva sobre os homens, como às vezes fez pensar no decorrer do enredo, mas em como é difícil sobreviver quando seu algoz é o próprio filho, marido, pai, irmão... uma figura masculina próxima da vítima que deveria respeitá-la e protegê-la. E as desculpas que são repetidas, geração após geração, para que a violência seja ratificada? Que sufoco! E o mais impactante de tudo, para mim, foi a delicadeza com a qual a roteirista (e acredito mesmo que a autora assim o fez) demonstrou o ciclo de violência que uma mulher em trauma perpetua essa triste história.


As flores silvestres produzidas no Campo de Espinhos servem como subsistência daquelas mulheres sobreviventes, e contam, silenciosamente, com uma flor ou um buquê aquele sentimento que desejam compartilhar – uma espécie de códigos que chamam de floriografia (muitíssimo utilizada na era vitoriana. Pesquisei para saber, tá?). Essas flores também nomeiam cada episódio, um título que bem representa o conflito ou o desfecho ali existente. O cenário produzido por esse conjunto de cores é fantástico. Já viu, né? Estou conspirando para que você também assista e comente comigo as suas impressões.

1 Comment


raigilcrosas
Jan 14

teste 😘

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